Como dizia Jack Welch, “Change before you have to.” Ou “Mude antes que você seja obrigado a fazê-lo.
Foi exatamente o que Hiroshi Mikitani fez em 2010, triplicando o faturamento da sua empresa, Rakuten.
O que é a Rakuten?
A Rakuten é uma espécie de Amazon do Japão. Hoje ela atua também na área financeira, de energia, turismo, TV e música, entre outros. Alguns números:
- Quase 15 mil funcionários no mundo todo
- Faturamento de US$8 bi – quase triplicou desde 2011
- Patrocinadores do Barcelona (futebol) e parceiros do NBA – basquete americano.
Como crescer?
Em 2010 a Rakuten era líder no e-commerce no Japão, com 90% das vendas no setor. Foi então que o CEO Hiroshi Mikitani anunciou uma medida drástica, pensada para transformar a empresa numa organização global, única forma de a empresa crescer!
Inglês como língua franca – início do projeto
Mikitani então fez um anúncio que chocou os mais de 9000 trabalhadores da Rakuten no Japão: “A partir de hoje, vamos usar inglês para toda a comunicação na empresa”.
Todos teriam que atingir a pontuação de 650 no TOEIC (equivalente a um bom intermediário) em 2 anos ou encarar demissão ou demoção. Detalhe: apenas 10% dos colaboradores já tinham esse nível de inglês.
No dia seguinte, os menus das cantinas estavam em inglês, assim como todos os comunicados das diretorias. As reuniões e toda a documentação da empresa também deveriam ser em inglês.
Reações à mudança
Obviamente, as reações dos colaboradores foram muito negativas no início. Os funcionários não entendiam o propósito do projeto: porque tinham que falar em inglês entre si, sendo que estavam todos trabalhando no Japão?
O processo de mudança gerou muito stress, pois todos tinham medo de ser demitidos ou perder seus cargos se não atingissem a meta no teste TOEIC. Muitos achavam injusto que outros poderiam receber promoções apenas por conseguirem se comunicar melhor – ao invés de serem julgados pelos seus resultados técnicos.
Até a imprensa no Japão se posicionou contra a mudança, alegando que abrir mão da língua japonesa levaria à perda da identidade cultural.
Estudo de caso da Harvard Business School
Pesquisadora de comunicação e cultura organizacional, a professora Tsedal Neeley, da Harvard Business School, viu no anúncio uma chance única de pesquisa. Começou então um estudo de 5 anos, com total apoio da Rakuten, na qual ela entrevistou funcionários no Japão e nas empresas do grupo em outros países da Ásia, na Europa e no Brasil.
Desse trabalho resultou no livro “The language of global success: how a common tongue transforms multinational organizations” , que usamos como base nesse artigo.
Primeiros resultados da “Englishnization”
Apesar do esforço de gestores e dos funcionários, que começaram a estudar inglês por conta própria, 18 meses após o anúncio da “Englishnization”, os problemas com o programa estavam evidentes:
- Poucos tinham conseguido alcançar a pontuação necessária no TOEIC;
- Mesmas metas e responsabilidades, mas tinham que fazer tudo em inglês;
- Queda de produtividade, pois levava mais tempo realizar as tarefas em inglês;
- Insegurança para falar: muitos passaram a não participar ativamente das reuniões;
- Falta de suporte ao aprendizado de inglês, já que a empresa não dava nenhum subsídio ou apoio
Mudanças necessárias no programa
O RH da Rakuten percebeu que teria que agir para que o programa desse certo, e tomou as seguintes medidas para ajudar os funcionários:
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- Aulas de inglês na empresa, no horário de expediente;
- Criação de plataforma e aplicativos para aprendizado de inglês, que depois se tornaram produtos da Rakuten;
- Aulas individuais para funcionários que estavam tendo maiores dificuldades;
- Apoio de gestores, até do CEO, para ajudar os seus funcionários a atingir a meta.
Resultados positivos
Em menos de 1 ano, os resultados foram muito melhores, com 87% dos funcionários atingindo ou superando a meta do TOEIC de 650 pontos.
Os funcionários passaram a aceitar melhor o programa, já que entenderam a necessidade de mudança. A empresa acelerou o ritmo de aquisições fora do Japão, e o inglês como língua franca facilitou a real integração entre equipes globais, com maior compartilhamento de ideias, conhecimentos e inovação.
Outro ganho foi em poder recrutar talentos globais para trabalhar no Japão. Hoje, 80% dos engenheiros contratados no Japão são estrangeiros. Isso trouxe uma enorme diversidade à empresa, com colaboradores de 45 nacionalidades diferentes, gerando ganhos significativos em inovação.
Como citamos no início, o faturamento da Rakuten triplicou desde 2011, como a estratégia de internacionalização.
Lições aprendidas
Com a experiência da Rakuten, a pesquisadora Tsedal Neeley conclui ser necessário:
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- Forte comprometimento dos gestores, incentivando suas equipes a correr riscos e usar o idioma o tempo todo;
- Estabelecer metas claras e medição de resultados;
- Divulgar resultados positivos para encorajar todos os colaboradores;
- Subsidiar o custo do aprendizado;
- Que a empresa contratada para a capacitação em inglês possa formatar cursos que atendam exatamente as necessidades de comunicação na empresa.
Faz sentido adotar o inglês como língua franca no Brasil?
Obviamente, sua empresa tem que ter um objetivo estratégico para uma mudança radical como essa, por exemplo, um plano de expansão internacional.
Algumas empresas estão praticamente prontas para essa evolução, mas provavelmente nunca a consideraram! Vamos a alguns casos:
- empresas que já têm times que usam inglês com frequência;
- start-ups em rápido crescimento, com chances de virar um “unicórnio”;
- empresas que prestam serviços para empresas estrangeiras;
- negócios que têm inovação, pesquisa e desenvolvimento como foco.
O que falta para adotar o inglês como língua é um plano consistente e a decisão de mudar. A The One pode te ajudar a traçar esse plano e dar todo o suporte necessário na capacitação de sua equipe.
Vamos bater um papo sobre essa possibilidade?